हरिः ओम्

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domingo, 7 de junho de 2015

Religião existe sem religiosidade e religiosidade existe sem religião


Pode soar contraditório, mas religião existe sem religiosidade e religiosidade existe sem religião. Não faz muito tempo, eu estaria tagarelando sobre o tema. Mas agora é diferente. Um senso de responsabilidade me faz silenciar. Escrevo este texto sem nenhuma intenção de ofender quem quer que seja. E penso, penso muito, antes de falar sobre religião e religiosidade. E esse tanto pensar não é garantia de que falarei com propriedade. Então, eu rezo. Om! Nos círculos em que convivo encontro todo o tipo de fé: católicos, presbiterianos, os da Igreja Maranata, os da Igreja Universal, os da Nuvem da Graça, os da Snow Ball Church (tradução: Igreja da Bola de Neve. Isso mesmo, você não leu errado!), mórmons, adventistas do sétimo dia, espíritas “kardecistas”, daimistas, budistas, batistas, islâmicos, luteranos, testemunhas de Jeová, messiânicos, judeus, judeus messiânicos (assumem Jesus como o Messias), Sahaja Yoguis, devotos de Sai Baba, os Hare Krsnas, místicos de todo tipo (dentre estes a lista é grande, então é preciso resumir) , hippies, cientistas, hedonistas, dinheiristas, os escolistas-de-samba, fashionistas, os cultuadores do corpo, os da congregação da Herbalife ,  os agnósticos e os ateus. Tem gente que até combina uma fé com a outra: sintam-se livres para análise combinatória da fés. Por falta de denominação oficial, tive de criar aqui nomes para algumas fés, para melhor me fazer entender. Eu mesma fui turista espiritual durante um bom tempo da minha vida. Eu mesma, em diferentes momentos, já experimentei e também combinei as fés que citei. Quais delas? Todas, exceto duas ou três, e foi só por falta de oportunidade, e não por alguma antipatia ou aversão a priori. De algumas tive apenas uma rápida degustação, em outras mergulhei. O que havia de comum? Eu. Eu estava lá. Experimentando. As religiões são conjuntos de dogmas (verdades fundamentais de caráter indiscutível) que determinam preceitos e proibições, de acordo com os quais o fiel, congregado ou devoto deve pautar seu comportamento no mundo e seu modo de se relacionar com Deus. Do cumprimento ou não das regras, vêm a salvação ou a danação eternas. Intuitivamente, as pessoas têm necessidade de se conectar com algo superior, capaz de reger e dar sentido à vida, conferindo-nos, de uma vez por todas e de forma absoluta, a felicidade. Esse “algo superior” é o que chamamos Deus, a totalidade. Em função de variáveis diversas ― sobre as quais não convém discorrer neste momento para não transformar este artigo num tratado ―, ocorrem deformações na expressão desse “algo superior” dentro da psique humana e daí, no lugar que seria ocupado por Deus, surgem outras expressões, mais ou menos concretas, do ponto de vista relativo, porém todas mais limitadas que o conceito de Deus, tais como o dinheiro, o conhecimento, o poder, o sucesso, a fama, a beleza, o prazer, devido ao seu potencial de produzir felicidade transitória. De acordo com o que me foi ensinado desde muito cedo, Deus criou o mundo e a nós, as criaturas. Ele vivia lá na Morada Divina, no Céu, enfim, num lugar que nunca pode de verdade entender onde ficava, e de lá mandava recompensas e castigos de acordo com sua decisão prévia sobre quem era agraciado ou desgraçado (Santo Agostinho). Um pouco mais tarde, trocaria a parte do raciocínio referente ao critério de graça e desgraça pelo critério do merecimento ou dignidade: recompensas e castigos de acordo com mérito e demérito. Mas Deus continuava lá, lá bem longe, inexorável, mandando essas coisas. De qualquer modo, a gente tinha de rezar, esperando estar na lista dos agraciados ou merecedores. Aparentemente, Deus me mandava recompensas e castigos alternadamente, não dava para concluir se era agraciada ou desgraçada, merecedora ou indigna. O problema da dor não tinha solução.E restava ainda problema do destino: todos morreremos e, pior, sabemos disso! Se fomos criados e colocados aqui, para onde iremos? Recebi muitas respostas: céu, plano espiritual, mundo dos mortos, umbral, purgatório, inferno, juízo final e o “nada”. Apesar disso, porém, a maioria de nós sente a morte bem longe, lá no fim da vida, onde, aliás, ela está, só não sabemos se isso será daqui 20 anos, 20 dias ou 20 minutos. O mesmo não acontece com a polaridade do bem e do mal, a qual, querendo ou não, testemunhamos e vivenciamos dia a dia. Não podendo ignorá-la como fazemos com a morte, dela tentamos escapar de várias maneiras. A principal forma de fugirmos do mal é a identificação de nós mesmos (ego) com o bem e a projeção do mal nos outros, com sua personificação máxima em Satanás ("o inferno são os outros” ― fala de uma personagem na peça Huit-Clos de Sartre). E ninguém pode se sentir seguro ou viver em paz convivendo com demônios. As religiões em geral reforçam este equívoco separando o bem do mal, sendo Deus um repositório exclusivo do bem. Quando vislumbramos a sombra do mal em nós, sentimos que estamos separados de Deus. Nenhuma religião ou pensamento filosófico se mostrou completamente hábil a me mostrar uma saída para este labirinto que é viver. Mas aquele sentimento natural que nos impulsiona à conexão com “algo superior” permanece.  Demora um tanto para uns, bem mais para outros e nem chega para outros tantos, o entendimento de que essa busca não se faz para fora e sim para dentro. Religiões, assim entendidas como aquele conjunto de dogmas que modulam o pensamento e o comportamento dos devotos, são expressões eminentemente externas, e, por serem assim, podemos dizer que são os primeiros passos do caminho espiritual ou rudimentos da espiritualidade. A religiosidade, no entanto, é o sentimento religioso, a capacidade de transcender aos objetos da adoração e do culto externo e buscar o significado teleológico da religião que é a conexão com algo superior, que, não estando do lado de fora, nos objetos, só pode ser encontrado em nós mesmos, no sujeito (em outra oportunidade vamos falar aqui Blog sobre o que é necessário para que isso ocorra). A religiosidade madura se converte em devoção. De verdade, são palavras sinônimas. Eu prefiro usar a palavra devoção. A devoção pressupõe a compreensão de que existe uma ordem dentro da qual existimos, que determina o resultado das nossas ações e a qual não podemos controlar. E justamente por saber que não estamos no controle, rezamos e fazemos nossas saudações a esta ordem superior.  A consciência de que não estamos no controle nos livra da culpa. A devoção pressupõe a ausência de julgamentos, sem separação do bem e do mal, pois esta é a única forma de se viver em paz. Ser devoto significa reverenciar o sagrado que tudo permeia, e “tudo” inclui o próprio devoto. Para um devoto verdadeiro, qualquer forma de Deus é sagrada, por isso, ele prescinde de uma religião. Honra-se a vida, a própria e a dos demais seres, humanos e não humanos, de todos os reinos, de todas as cores, de todos os mundos. Ser devoto é sentir e desfrutar do perfume da bem aventurança, da Totalidade que é Deus.  Harih Om हरिः ओम्

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